“O sistema é complicado porque as leis são complicadas”

Dorval Advogados Associados - Itajaí > Notícias  > “O sistema é complicado porque as leis são complicadas”

“O sistema é complicado porque as leis são complicadas”

É preciso oferecer ao juiz a segurança que ele precisa. A maneira como fazer isso é que complica a proposta. A desembargadora Maria Helena Cisne, presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que abrange o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, já sentiu na pele as dificuldades inerentes à segurança do juiz. Foi ameaçada quando juíza e, anos depois, quando assumiu a corregedoria do Tribunal.

Em entrevista à revista Consultor Jurídico para o Anuário da Justiça Federal, a desembargadora contou que, quando juíza, assumiu um caso envolvendo uma fraude bilionária no INSS. Por conta disso, passou a ser ameaçada. “Na época, colocaram dois agentes na minha casa. O que adianta dois agentes se eu tenho sete filhos e saio para trabalhar?” O jeito encontrado pela Polícia Federal foi usar um carro comum, com várias placas, de números inexistentes, e trocar aquele que a juíza utilizava. “Eu ia deitada atrás do carro e a cada dia ele fazia um caminho diferente. Passei nove meses desse jeito”, contou. “Eu era uma juíza ameaçada. E quando há vários, como é que faz? É preciso um contingente muito grande para cuidar 24 horas de uma pessoa.”

Maria Helena Cisne também contou dos projetos que tem para o tribunal. Um é construir um novo espaço para abrigar 27 desembargadores — além de outros 20 previstos para ingressar no tribunal nos próximos cinco anos. O outro é a implantação do processo judicial eletrônico. Por fim, quer intensificar a conciliação. “Se eu conseguir isso, já posso partir tranquila, fiz o que eu queria: fui juíza, cheguei à Presidência do Tribunal e, na Presidência, consegui as três coisas que eu me propus a fazer.”

A desembargadora, de voz baixa e fala pausada, pode dar uma impressão totalmente equivocada para quem não a conhece. Quando se depara com uma situação que a deixa indignada, muda a expressão e o tom de voz. “Infelizmente nós ainda temos muitos problemas. Não sobra dinheiro para fazer um sistema penitenciário digno. E não sobra porque roubam tudo antes de chegar lá. Toda hora tem um roubo”, diz, demonstrando incoformismo.

Nascida no Espírito Santo, filha de fazendeiro, a desembargadora conta que via seu pai resolvendo os problemas que os colonos tinham, até mesmo briga de marido e mulher. “Foi observando meu pai que eu resolvi ser juíza”, diz. O pai queria que ela fosse professora e a desembargadora chegou a estudar para isso. Depois, continuou os estudos em Vitória. Mudou-se para o Rio de Janeiro e fez concurso público.

“Comecei a trabalhar em coletoria, local onde as pessoas iam pagar os impostos. Depois fiz concurso para fiscal e passei. Fui trabalhar no Conselho de Contribuintes e crescendo na carreira. Até que resolvi fazer concurso para o Ministério Público Federal, porque eu não gostava de ser fiscal. Mas eu ganhava muito bem nessa época, porque os fiscais tinham participação na arrecadação do Estado. Fiz concurso para ganhar um terço na Procuradoria da República. Eu gostava muito. Depois, fiz concurso e passei a ganhar menos também na magistratura.”

Fonte: Consultor Jurídico

https://www.conjur.com.br/2011-out-30/entrevista-maria-helena-cisne-presidente-trf-regiao

Tags:

No Comments

Leave a Comment

Todos os direitos reservados. Dorval Advogados Associados.